Presidente ou presidenta?
No estudo do substantivo presidente e de outros termos, consultaremos o latim, a língua portuguesa, alguns dicionaristas e finalmente tiraremos conclusões:
a) latim: há três particípios no latim:
- particípio passado: é formado pelo radical do verbo mais as declinações –us, –a , –um; concorda em gênero, em número e em caso com o substantivo a que se refere:
primeira conjugação: amatus (amado, masculino), amata (amada, feminino), amatum (amados, neutro); gubernatus (governado, masculino), gubernata (governada, feminino), gubernatum (governados, neutro); segunda conjugação: praesiderus (presidido, masculino), praesidera (presidida, feminino), praesiderum (presididos, neutro); terceira conjugação: auditus (ouvido), audita (ouvida), auditum (ouvidos, neutro); quarta conjugação: ponestus (posto, masculino), ponesta (posta, feminino), ponestum (postos, neutro).
- particípio presente: é formado pelo radical do verbo mais as terminações da terceira declinação (ans, antis; ens, entis; ins, intis; entu, enta, entus, entas): as seis primeiras declinações quanto ao número designam (singular e plural), e quanto ao gênero são neutras, ou seja, não designam masculino e feminino, sem qualquer exceção; as quatro últimas declinações quanto ao gênero designam (masculino e feminino), e quanto ao número designam singular e plural:
ans, antis (são usadas nos verbos da primeira conjugação, ar): almirans (almirante), almirantis (almirantes), comandans (comandante), comandantis (comandantes), comedians (comediante), comediantis (comediantes), elefans (elefante), elefantis (elefantes), gigans (gigante), gigantis (gigantes), governans (governante), governantis (governantes), infans (infante), infantis (infantes).
Observação: Não há base no latim para a existência das palavras: almiranta, comandanta, comedianta, elefanta, giganta, governanta, infanta, mastodanta.
ens, entis (são usadas nos verbos da segunda conjugação, er): assistens (assistente, verbo assistere), assistentis (assistentes), cedens (cedente), cedentis (cedentes), inchens (enchente), inchentis (enchentes), existens (existente, verbo existere), existestis (existentes), gerens (gerente, verbo gerere), gerentis (gerentes), parens (parente), parentis (parentes), presidens (presidente, verbo praesidere), presidentis (presidentes), ponens (poente, verbo ponere), ponentis (poentes).
Observação: Não há justificativa no latim para a existência das palavras: parenta e presidenta.
ins, intis (são usadas nos verbos da terceira conjugação, ir): contribuins (contribuinte), contribuintis (constituintes), constituins (constituinte), constituintis (constituintes), pedins (pedinte), pedintis (pedintes), requins (requinte), requintis (requintes);
entu, enta, entus, entas: poeirentu, poeirento, poeirentus, poeirentos, poeirenta, poeirentas; sangrentu, sangrento, sangrentus, sangrentos, sangrenta, sangrentas; sedentu, sedento, sedentus, sedentos, sedenta, sedentas.
Observções:
1ª) As declinações acima são usadas principalmente em verbos mas também são usadas em outras classes de palavras (substantivos, adjetivos e preposições): almirante, elefante, elegante, gigante, paciente, parente, tenente, requinte, assento, talento, avarento, avarenta, corpulento, corpulenta, lento, lenta, durante, antes, durante, mediante:
mulier praesidens gubernum, a mulher presidente do governo.
mulierus praesidentis gubernus, as mulheres presidentes dos governos.
homus praesidens gubernum, o homem presidente do governo.
homis praesidentis gubernus, os homens presidentes dos governos.
2ª) Além daquelas declinações, havia ainda no latim as declinações antu, antus, anta, antas, que eram usadas em outras classes de palavras, principalmente nos substantivos: anta, canto, jamanta, manto, manta, quanto, quantos, quanta, quantas, quebranto, tanto, tantos, tanta, tantas etc.;
3ª) “Participios. 511. O participio presente, usado hoje exclusivamente como adjectivo (310, VI, 1) não admite flexão de gênero, e só concorda em numero com o substantivo a que se refere, quer como adjuncto attributivo, quer como predicado, ex.: Homem amante, mulher amante, homens amantes, mulheres amantes – Este estylo é brilhante, esta pedra é brilhante, estes estylos são brilhantes, estas pedras são brilhantes.”1
1. RIBEIRO, Julio, Grammatica Portugueza, 5ª edição, revisada por João Vieira de Almeida, editor Miguel Melillo, São Paulo, 1899, p. 279, apud Coleção “gramáticas”, iel.unicamp.br, negrito nosso.
- particípio futuro: possui duas formas: forma ativa: é formada pelo radical do verbo mais as terminações urus, ura, urum; e forma passiva: é formada pelo radical do verbo mais as terminações ndus, nda, ndum; concordam em gênero, em número e em caso com o substantivo a que se refere; forma ativa: amaturus, amatura, amaturum = amadouro, amadoura, amadouros (que amará); duraturus, duratura, duraturum = duradouro, duradoura, duradouro (que durará); mataturus, matatura, mataturum = matadouro(a, o) (que matará); vindouro(a, o) (que virá); forma passiva: doutorandus, doutoranda, doutorandum = doutorando, doutoranda, doutorandos (que será doutor ou doutora, ou que serão doutores); examinandus, examinanda, examinandum = examinando (que será examinado ou examinada, ou que serão examinados); legenda (que será lida ou que serão lidas); memorando (que será memorizado ou memorizada, ou que serão memorizados); venerando (que será venerado ou venerada, ou que serão venerados).
b) língua portuguesa: a língua portuguesa absorveu algumas declinações latinas:
- o particípio passado latino foi transformado em particípio (forma nominal do verbo); é classificado como adjetivo ou como particípio do verbo principal; exatamente como no latim, possui feminino e masculino, singular e plural; é formado pelo radical do verbo mais as terminações ado, ados (atus), ada, adas (ata), ido, idos (itus), ida, idas (ita); as terminações neutras latinas atum e itum não são usadas na língua portuguesa:
marcado (marcatus), marcada (marcata), marcados (marcatum), marcadas (marcatum); presidido (praesiderus), presidida (praesidera), presididos (praesiderum), presididas (praesiderum); terminações não-usadas: amatum (amados, neutro); auditum (ouvidos, neutro); gubernatum (governados, neutro).
- o particípio presente latino foi transformado em adjetivo e em substantivo; foram mantidas na língua portuguesa as três declinações neutras quanto ao gênero que designam plurais (antis, entis, intis), com pequenas alterações, e as quatro declinações latinas que designam o gênero e o número (ento, entos; enta, entas), também com pequenas alterações, portanto há na língua portuguesa dez terminações ou sufixos (ante, antes; ente, entes; inte, intes; ento, entos; enta, entas), mas bem mais fáceis do que as dez que há no latim; das dez terminações portuguesas apenas as quatro últimas flexionam-se em gênero e em número; as seis primeiras, quanto ao gênero, são comuns de dois, ou seja, não possuem masculino e feminino; a classificação comum de dois aplica-se a todos os adjetivos e a todos os substantivos que possuem os sufixos ante, antes, ente, entes, inte, intes, sem exceção:
ante, antes: almirante, almirantes, comandante, comandantes, elefante, elefantes, gigante, gigantes, governante, governantes, ignorante(s), infante(s), marcante(s), radiante(s), representante(s), triunfante(s), vigilante(s) etc.
Usos como adjetivos: “Os municípios participantes (que participam) do ‘Municípios Verdes’...; os órgãos competentes...”1
Usos como substantivos: “‘Quatro acidentes com aeronaves já foram registrados em fevereiro...’ ‘Os ocupantes de outro bimotor não tiveram a mesma sorte.’”2
ente, entes: assistente, assistentes, cedente, cedentes, enchente(s), existente(s), gerente(s), inerente(s), parente, parentes, presidente, presidentes, poente(s).
1. orm.com.br, 29.2.2012; 2. orm.com.br, 29.2.2012.
Observações:
a) Os sufixos ante e ente são comuns de dois, ou seja, são termos únicos para o masculino e para o feminino; ante e ente não são e nunca foram masculinos, e não possuem femininos, por exemplo, os sufixos anta e enta; estes, como veremos a seguir, são respectivamente os femininos de anto e de ento; segundo a língua portuguesa não existem as palavras almiranta, ajudanta, aspiranta, comandanta, comedianta, elefanta, giganta, governanta, infanta, mastodanta, parenta e presidenta, porque ante e ente não possuem feminino; se os masculinos fossem almiranto, ajudanto, comandanto, comedianto, elefanto, giganto, governanto, infanto, mastodanto, parento e presidento, os femininos seriam almiranta, ajudanta, comandanta, comedianta, elefanta, giganta, governanta, infanta, parenta e presidenta; como na língua portuguesa não existem aqueles, também não existem estes. Segundo a língua portuguesa é erro gravíssimo usarmos aquelas palavras excêntricas, anormais;
b) “Elefante” e “gigante” surgiram no grego, respectivamente “elephas” e “gigas”.1
inte, intes: contribuinte, contribuintes, constituinte(s), pedinte(s), substituinte(s) etc.
ento, entos, enta, entas: atento, atentos, atenta, atentas; corpulento, corpulentos, corpulenta, corpulentas; poeirento, poeirentos, poeirenta, poeirentas; suculento(s,a,s); turbolento(s,a,s) etc.
1. Antenor Nascentes e Antônio Houaiss.
Outros exemplos: enjoento, enjoenta, pirento, pirenta, sardento, sardenta, turbulento, turbulenta etc.
- o particípio futuro latino: não é usado na língua portuguesa salvo em alguns substantivos e adjetivos; do particípio futuro ativo latino foram mantidas na língua portuguesa duas terminações: urus (ouro) e ura (oura); a terminação urum não é usada; salvo exceções possui masculino e feminino, singular e plural; é formado pelo radical do verbo mais os sufixos ouro, oura, ouros, ouras; se é usado como adjetivo, concorda em gênero e em número com o substantivo; do particípio futuro passivo latino foram mantidas na língua portuguesa duas terminações: ndus (ndo) e nda (nda); deu origem ao gerúndio e a substantivos na língua portuguesa; como gerúndio é invariável e como substantivo flexiona-ne em número; a terminação ndum não é usada na língua portuguesa:
bebedouro (que beberá), comedouro (que comerá), morredouro (que morrerá), matadouro, surgidouro, ano vindouro (ano que virá), primavera vindoura (primavera que virá); verbos da primeira conjugação: cantar, cantando (que será cantado), examinar, examinando (que será examinado), memorando (que será memorizado), venerando; verbos da segunda conjugação: ler, lendo (que será lido), vender: vendendo (que será vendido), legenda (que será lida); verbos da terceira conjugação: contribuir: contribuindo, constituir: constituindo, pedir: pedindo, substituir: substituindo.
Observação: Além daqueles sufixos, há ainda na língua portuguesa as terminações anto, antos, anta, antas, que são usadas em outras classes de palavras, principalmente nos substantivos: anta, canto, jamanta, manto, manta, quanto, quantos, quanta, quantas, quebranto, tanto, tantos, tanta, tantas etc.
Alguns exemplos: (1) A presidente da Nicaragua governou sob as contrastantes pressões da esquerda e da direita. (2) “Em reunião com deputados, presidente eleito de Cabo Verde defendeu o direito de pessoas de baixa renda a serviços financeiros.” (3) “Presidente do TRT é homenageada pelo TJE.” (4) “Nossa presidente estará na cidade.” (5) Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, visita presidente do Brasil, Dilma Rousseff. (6) “Estudantes fazem adaptações no jogo ‘Harry Potter’.”
Em (1), (2), (3) e (4) os termos a, eleito, homenageada e nossa definem que os gêneros dos titulares dos cargos são respectivamente feminino, masculino, feminino e feminino; em (5) não há determinante mas os nomes das titulares dos cargos (Cristina e Dilma) designam pessoas do sexo feminino; em (6) também não há determinante mas no vídeo correspondente, verificamos que são rapazes e moças. Na língua portuguesa, existem pelo menos cinco formas de designarmos os gêneros dos substantivos comuns de dois (artigo, adjetivo, predicativo do sujeito, pronome possessivo, nome do titular, ou a própria pessoa), portanto é desnecessário violarmos a regra substantivo comum de dois (termo único), usarmos presidenta, para expressarmos o gênero. É facílimo usarmos um “a” à frente de “presidente” para definirmos o gênero.
c) autores de dicionário: analisamos as classificações dos autores isoladamente, porque a divergência entre eles é tão grande quanto à classificação das nove palavras, que é impossível os agruparmos. Usaremos as seguintes siglas: sm (substantivo masculino): aquele de gênero masculino; sf (substantivo feminino): aquele de gênero feminino; s2g (substantivo de dois gêneros) ou substantivo comum de dois; af (adjetivo feminino): aquele de gênero feminino; am (adjetivo masculino): aquele de gênero masculino e a2g (adjetivo de dois gêneros) ou adjetivo comum de dois.
“Comum-de-dois. Adj. 2 gên. E. Ling. Diz-se de substantivo que tem só uma forma para os dois gêneros, como, p. ex., artista, pianista, regente, selvagem; comum de dois gêneros, sobrecomum, uniforme.” “Substantivo de dois gêneros. E. Ling. Aquele que tem só uma forma para os dois gêneros (mas. e fem.), e em que o determinante (3) da palavra denota o sexo do ser a que se refere. [Ex.: dentista: o dentista, a dentista; o agente, a agente; o imigrante, a imigrante... Substantivo feminino. E. Ling. Aquele de gênero feminino... Substantivo masculino. E. Ling. Aquele de gênero masculino.” “Determinante. E. Ling. 3. Elemento que modifica o determinado, e com ele forma um sintagma.”1
“Comum de dois gêneros: diz-se do substantivo que tem uma só forma para os dois gêneros, os quais se distinguem quando se faz variar o gênero do adjunto adnominal. Ex: O artista, a artista; esse pianista, essa pianista. = Comum de dois.”2
“Substantivo de dois géneros: o que tem apenas uma forma para o género masculino e para o género feminino (ex.: estudante).”3
1. Novo Aurélio Século XXI; 2. Dicionário Online Michaelis; 3. www.priberam.pt.
(1) Para Antônio de Moraes, almirante, comandante, comediante e presidente são sm; parente: sm, “parenta: variação feminina de parente”; elefante e gigante são sm e elefanta e giganta são sf.1
(2) Para Luiz Maria, almirante, comandante, comediante e presidente são sm; parente é a2g, “alguns dizem também parenta no gênero feminino”; elefante e gigante são sm, elefanta e giganta são sf.2
(3) Para Domingos Vieira, almirante (ár. amir + o sufixo latino ante), comandante e presidente são sm; “almiranta (a nau em que vae o segundo chefe de uma armada ou esquadra ou frota)”: sf; presidente é a2g; governante é s2g; parente: a2g; comediante, elephante, gigante e parente são sm, comedianta, elephanta ou elephoa, giganta e parenta são sf.3
(4) Para Francisco da Silveira, almirante é sm; comandante é a2g e sm, e comandanta é sf; comediante é a2g e não existe o substantivo comediante; governante é s2g e a2g, e governanta é sf; infante é sm, e infanta é sf; elefante, gigante e parente são sm, e elefanta, giganta e parenta são sf; presidente é a2g e s2g, e presidenta é sf; classifica também presidenta como neologismo.4
“Neologismo: criação desnecessária de palavras novas.” (Akio Watanabe, algosobre.com.br). “Neologismo: s.m. Palavra nova, ou nova acepção de uma palavra já existente na língua.” (Dicionarioaurelio.com). “Vícios de linguagem são palavras ou construções que deturpam, desvirtuam ou dificultam a manifestação do pensamento. NEOLOGISMO – Só é vício de linguagem quando desnecessário. Constitui neologismo a palavra nova, introduzida pela ciência ou por necessidade de melhor especificação, criada dentro do idioma ou adaptada de outros de acordo com o gênio do nosso (astronauta, míssil, telex, xérox) ou a palavra antiga tomada em sentido novo computador, satélite).”5
1. Silva, Antônio de Moraes, Diccionário da Língua Portugueza, Typographia Lacerdina, 1789; 2. Pinto, Luiz Maria da Silva, Diccionario da Lingua Brasileira, Typographia de Silva, 1832; 3. Vieira, Domingos, Grande Diccionário Portuguez, vol. 1, pág. 618, 1872; 4. Bueno, Francisco da Silveira, Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, editora FAE, 11ª edição, 1995. A 1ª edição foi publicada em 1956; o autor era Catedrático de Língua e Filologia Portuguesa da Universidade de São Paulo, nasceu em 1898 e faleceu em 1989; 5. Almeida, Napoleão Mendes de, Gramática Metódica da Língua Portuguesa, Ed. Saraiva, 42ª edição, 1998, pág. 520.
(5) Para Adalberto Prado, almirante, comandante, elefante, gigante, governante e presidente são sm, e almiranta, comandanta, elefanta, giganta, governanta e presidenta são sf; “almiranta (nau que leva a bordo o almirante)”1
(6) Para Antenor Nascentes, comandante é sm; elefante, gigante, governante e presidente são sm, e elefanta, giganta, governanta e presidenta são sf.2
(7) Para Antônio Houaiss, almirante é sm; comandante é a2g, sm e s2g, sm (aquele que exerce um comando, título atribuído aos oficiais); comediante é a2g e s2g; gigante é sm e a2g, e giganta é sf; elefante é sm e elefanta é sf; infante é sm, a2g e s2g, e infanta é sf; governante, parente e presidente são a2g e s2g, e governanta, parenta e presidenta são sf.3
(8) Para o Aurélio Buarque, almirante é sm, a2g e af (nau almiranta); ajudante é a2g e s2g e ajudanta é sf; comandante é sm e a2g; comediante é s2g; elefante é sm, elefanta é sf; gigante é sm e a2g, e giganta é sf; governante é s2g e a2g; governanta é sf; infante é sm e a2g, e infanta é sf; parente é s2g e adj., e parenta é sf; presidente é s2g, sm e a2g, e presidenta é sf.4
(9) Para Michaelis, almirante é sm e adj.; comandante é sm e adj.; comandanta é sf; comediante é s2g e comedianta ou comediante é sf; elefante e gigante são sm, e elefanta e giganta são sf; governante é adj. e s2g, governanta é sf; parente é a2j. e sm, parenta é sf; presidente é a2j. e s2g, presidenta é sf.5
(10) Para Luiz Antônio Sacconi, almirante, comandante, comediante e elefante são sm e almiranta, comandanta, comedianta e elefanta são sf; gigante é sm e a2g, giganta é sf, governante, infante, parente e presidente são s2g, governanta, infanta, parenta e presidenta são sf.6
1. Silva, Adalberto Prado e, Dic. Brasileiro da L. Portuguesa, Enc. Britânica do Brasil, 1ª edição, 1975; 2. Nascentes, Antenor, Dic. da Língua Portuguesa, 1988, Acad. Brasileira, nasc. 1886-1972; 3. Houaiss, Antônio, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Editora Objetiva, 1ª edição, Reio de Janeiro, 2009, nasc. 1915-1999; 4. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Aurélio Século XXI, Editora Nova Fronteira, 1999, nasc. 1910-1989; 5. Weiszflog, Walter, Dicionário Online Michaelis; 6. Sacconi, Luiz Antônio, Nossa Gramática, 25ª edição, Atual, 141 a 143.
d) Conclusões:
Os autores não classificaram unanimemente nenhuma das nove palavras, as classificações das nove palavras segundo os dicionaristas são confusas, divergentes, todos se contradizem reciprocamente e muitos contradizem a si próprios, não é possível afirmarmos qual autor classificou corretamente as nove palavras, ou quais classificações são pelo menos aceitáveis. Constatamos também eles não seguem um referencial, que as classificações são pessoais, são suas próprias opiniões sobre as nove palavras. Se aceitarmos as classificações de um autor como correta, necessariamente rejeitaremos as classificações dos outros e vice-versa, porque elas se contradizem. Se afirmarmos que elas são a língua portuguesa, a) automaticamente afirmamos que a língua portuguesa é um caos, porque suas classificações são claramente caóticas, e b) criaremos um problema sem solução: qual ou quais das nove classificações são a língua portuguesa? Observamos ainda alguns absurdos nas classificações:
Em (1), (2) e (3), para Antônio de Moraes, Luiz Maria e Domingos Vieira, almirante, comandante, comediante e presidente são sm (aquele de gênero masculino), ou seja, só os homens são almirantes, comandantes, comediantes e presidentes, as mulheres não são almirantes, comandantes, comediantes e presidentes, elas não comandam e não presidem absolutamente nada; para eles não existe a ideia de que as mulheres exerçam tais cargos, mas como sabemos que já existem mulheres almirantes, comandantes e presidentes, as classificações dos autores são nulas segundo seus próprios conceitos.
Em (4), (7), (8), (9) e (10), os autores Francisco da Silveira, Antônio Houaiss, Aurélio Buarque, Michaelis e Luiz Antônio Sacconi contrariam a si próprios: segundo seus próprios conceitos, é impossível simultaneamente governante e presidente serem s2g, e governanta e presidenta serem sf, porque uma classificação elimina a outra. Se governante e presidente são s2g, são formas únicas, não existem governanta e presidenta. Se governanta e presidenta são sf, governante e presidente não são s2g, é necessário, portanto, que eles optem por uma das duas classificações porque as duas não coexistem.
Em (6) e em (8) para Antenor Nascentes e para Aurélio Buarque, comandante é sm, ou seja, só os homens são comandantes, as mulheres não são comandantes, não comandam absolutamente nada, mas como existem mulheres comandantes, essa classificação também é nula.
Em (7), (8) e (10), os autores Antônio Houaiss, Aurélio Buarque e Luiz Antônio Sacconi também contrariam a si próprios: é impossível simultaneamente parente ser s2g e parenta ser sf, porque uma classificação elimina a outra, como vimos no penúltimo parágrafo.
As classificações de algumas palavras como sm e sf, por exemplo, parente: sm e parenta: sf, usadas pelos dez autores, mínino de duas palavras (autor (2)) e máximo de seis (autor (5) também são nulas, porque se as demais palavras que possuem o mesmo sufixo (adolescente, agente, assistente, gerente, integrante, requerente) eles as classificaram como s2g e a2g, aquelas necessariamente também seriam classificadas como estas.
Observamos também que os dez autores contradizem-se reciprocamente pois usaram seis classificações para as nove palavras: uns classificaram algumas palavras como apenas substantivo masculino, outros como substantivo masculino e como substantivo feminino, outros como substantivo de dois gêneros, outros como substantivo de dois gêneros e como substantivo feminino, outros apenas como adjetivo feminino, e outros como adjetivo de dois gêneros e como adjetivo feminino.
Por exemplo, para os autores (1) a (9) almirante é sm, e para o autor (10) almirante é sm e almiranta é sf; para os autores (1), (2), (3), (6) e (8) comandante é apenas sm; para os autores (4), (5), (9) e (10) comandante é sm e comandanta é sf; e para o autor (7) comandante é sm e s2g; para os autores (1) (2) e (3) presidente é sm; para os autores (4), (7), (8), (9) e (10) presidente é s2g e presidenta é sf; e para os autores (5) e (6) presidente é sm e presidenta é sf. Constatamos ainda que as classificações das nove palavras, segundos alguns autores, são mutáveis, eles as mudam temporariamente.
Entre as mais de 60 classificações, apenas uma classificação está conforme a língua portuguesa, Antônio Houaiss, autor (7), classificou comediante como a2g e s2g.
Francisco da Silveira, na recente edição de 1995, classifica presidenta como neologismo, ou seja, “criação desnecessária de palavras novas” (Akio Watanabe), Napoleão Mendes de Almeida afirma que o neologismo é um vício de linguagem quando é desnecessário, e classifica “vícios de linguagem como palavras ou construções que deturpam, desvirtuam ou dificultam a manifestação do pensamento.
Segundo o latim e a língua portuguesa as nove palavras analisadas possuem classificações definidas, sem qualquer exceção, ou seja, s2g e a2g, não existe nessas duas línguas fundamento para a existência dos femininos: almiranta, ajudanta, aspiranta, comandanta, comedianta, elefanta, giganta, governanta, infanta, mastodanta, parenta, presidenta etc., que, aliás, além de serem anômalas, violentam, agridem a regra da bela língua portuguesa: “substantivo comum de dois e adjetivo comum de dois são os substantivos e os adjetivos que possuem forma única para masculino e para feminino.
Língua Portuguesa Descomplicada, a semente do amor à língua em tua mente
Predicativos do livro: dentre outros, gramática completa da língua portuguesa, linguagem clara e emocionante, seleção de exemplos, exposição abrangente da língua, exercícios compostos pelas melhores questões de vestibulares e de concursos públicos dos últimos cinco anos, conforme as novas regras ortográficas, 464 páginas, tamanho 17x24.
Fonte: SILVA, Cláudio Rodrigues da, Língua Portuguesa Descomplicada, Teoria e Prática, publicação independente, página 39, edição 2012. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução se for citada a fonte.
Para aprendermos a língua portuguesa, é suficiente entendermos os seus princípios fundamentais, os quais estão nos próprios textos, não é necessário memorizarmos ou estudarmos regras infindáveis, a grande maioria não-fundamentada na língua. Adquira esta obra original, única na história da língua, e comprove como é fácil aprendermos a língua portuguesa.